Um minuto de saudades do avô. Velho safado e tímido, olhos de azul traiçoeiro e pinta de homem que veio ao mundo pela elegância bem paga. Alguns apelidos sem graça - "formigão", ele repetia - e os cinquenta reais de presente de aniversário para comprar um papagaio, muito mais feliz na mata que na gaiola. O bicho morreu em dois anos, de banzo.
Uma foto minha com os dois únicos dentes que a idade permitia, despudoradamente à mostra. Meu dedo indicador enfiado na melancia trazida da fazenda e a felicidade por uma das minhas primeiras transgressões conscientes. Seu olhar permissivo.
Alguém que tinha sutiãns jogados pelo quarto pós-morte - e a palavra "estimulantes" na certidão de óbito. Infarto fulminante.
Um minuto de saudades de pedaços do avô durante a leitura de Bukowski. Mas só um minuto, também.