Quero-te de tato inteiro. Da nuca ao calcanhar emaranhado, até a última gota de humanidade escorrida, para se dissolver num animal abatido de quem eu possa me ver livre e sem troféus pendurados na lembrança. Numa visita, eu assistiria a ilusão que fiz de ti debater-se em pedras, apanhar feito potro mal-domado até se desfazer em defeitos. Uma, duas, três horas de tua prepotência, até que eu disesse chega, adeus, quem sabe até mais ver.
Aos silvos, te assopraria sobre mil poros cansados nosso desejo, único sobrevivente aos mal-entendidos subentendidos em ausências. Pintaria teu quadro de velho sedutor mas cansado, de alguém que não tem sua força vital senão aqui - e também ali, acolá e em outros portos contados a dedo, uma mão inteira deles. "Agora é a vez do dedo anular - tenha paciência, caro indicador". Seria uma frase aceitável se assumida, e não adivinhada em rastros e pegadas mal-disfarçadas.
Mas agora, ah, agora eu te quero de tato inteiro; que os outros portos, dedos e passado virem abstração. Menino vadio, sem mentir pra você, vem sem fantasia: fraco, tonto, meu. Só da noite pro dia; até que nosso quadro barroco derretesse num borrão cuspido no chão da praça pública. Até que restasse uma tela em branco, sem antes nem agora, à espera de um depois feito de matizes diferentes das suas.
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