domingo, 21 de fevereiro de 2010

Outro olhar

Mostrar a cidade para quem chama de pedaço de paraíso o que enxergamos como casa-trabalho-casa pode ser tão intrigante quanto a novidade que é para os que aqui chegam pela primeira vez. Mais que turistas, a velha amiga Manu e o novo amigo Lucas - pela companhia e pela "missão" que assumi com a vinda deles - também foram guias de um outro olhar para Florianópolis.

O verde-turmalina da água pareceu ganhar de volta o encanto perdido com a familiaridade. O trajeto centro-norte ficou mais longo, mas nem por isso mais cansativo, porque dele foi possível ver novamente o domínio da mata exuberante pouco valorizada pela vontade de chegar logo. Até a tatuíra asquerosa retomou a graça que tinha quando, aos dez anos de idade, era possível caçá-las ao lado da sinalização de mar bravo. E nem mesmo a falta de decisão do cidadão que deixou uma placa escrito "talvez eu venda" em frente à própria casa teria sido tão hilária.

Mas em se falando de Manu, a viagem também é sempre para dentro, como não podia deixar de ser com uma psicóloga - não a chamo de futura psicóloga porque a sensibilidade já está ali. Como sempre, a saudável mania de "vasculhar cada pedrinha do fundo dos nossos oceanos". Somado a essa visão profunda do outro, tembém fez companhia o senso de justiça tocante de Lucas, que me fez sentir menos envergonhada das próprias falhas morais do que deu prazer em reconhecer que essa dignidade ainda subsiste em algumas pessoas.

O incomum no que infelizmente passa despercebido: recuperei na cidade, relembrei nos amigos.


terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Far


Aquilo que é distante é sempre mais necessário que o que está a nosso alcance. Especialmente as pessoas. Seus defeitos se escondem em névoas, os bons momentos compartilhados parecem mais doces que quando degustados. A ausência usa uma paleta colorida para restaurar uma obra gasta e muito pouco prima, para pendurá-la numa parede recém pintada. Dentre os ângulos, lembramos apenas dos que são dignos de habitar o Olimpo das reminiscências.

Ao nosso lado, o outro se mostra no seu estado bruto, cheio de aparas, arestas, sobras e faltas. Sem desafios, não nos provoca mais a velha obsessão da criança em desespero pelo presente que ainda não ganhou. A única coisa que realmente interessa nas pessoas é o que adornamos nelas com nossa imaginação ou é imaturidade não contentar-se com o real, mesmo que aguado? Porque se for isso, meu Zeus, que o tempo nos ensine a amá-las, porque essa alternância de Gata Borralheira presente e Cinderela distante é frustrante demais.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Ryszard Kapuscinski e o jornalismo empático

Quando já estou cansada de ouvir que jornalistas são pretensiosos e arrogantes, como se essas características fossem quase pré-requisitos para se exercer a profissão - bem mais importantes que o diploma -, Kapuscinski vêm ao meu socorro.
Empatia e discrição, caros. Pero él habla, "obviamente, del buen periodismo." Dica.

"Creo que para ejercer el periodismo, ante todo, hay que ser un buen hombre, o una buena mujer: buenos seres humanos. Las malas personas no pueden ser buenos periodistas. Si se es una buena persona se puede intentar comprender a los demás, sus intenciones, su fe, sus intereses, sus dificultades, sus tragedias. Y convertirse, inmediatamente, desde el primer momento, en parte de su destino. Es una cualidad que en psicología se denomina ‘empatía’. Mediante la empatía, se puede comprender el carácter propio del interlocutor y compartir de forma natural y sincera el destino y los problemas de los demás. En este sentido, el único modo correcto de hacer nuestro trabajo es desaparecer, olvidarnos de nuestra existencia. Existimos solamente como individuos que existen para los demás, que comparten con ellos sus problemas e intentan resolverlos, o al menos describirlos. El verdadero periodismo es intencional, a saber: aquel que se fija un objetivo y que intenta provocar algún tipo de cambio. No hay otro periodismo posible. Hablo, obviamente, del buen periodismo”.