sábado, 26 de fevereiro de 2011

Além da fronteira

Depois de ultrapassado o limite inultrapassável, a barreira que desafia a juventude a superá-la para só então entregar-lhe um posto acima da mediocridade dos que pouco anseiam, daqueles que preferem o conforto ruminante de um pasto entre semelhantes; depois de ter se libertado disso tudo e ascendido ao degrau em que convivem os que dizem sim ao risco, só então que a verdade aparece num clarão, ofuscando a visão até o resto dos seus dias: seu impulso foi sua maldição.

Depois daquele dia, o anjo torto sussurra todo noite ao ouvido: 'Agora vai, vai ser gauche na vida!' Uma sequência de escolhas inconsequentes, réplicas baratas do terremoto que foi sua primeira grande transgressão na vida. O inconsciente virou seu guia cego e só conhece o mesmo caminho, um que leva ao jardim de flores negras que escondem um precipício por detrás de si. Cada pétala exala um cheiro que remete à falsa impressão de que no sexo está a conexão entre os homens. E não há quem não passe por ali que não se atraia pelas flores, arranque com lascívia uma delas, embriague-se naquele odor carnal, sinta-se parte de um paraíso em que todas as pessoas vivem em constante orgasmo e, nesse frenesi, tropece nas pedras da realidade e caia abismo abaixo.

Vai, vai ser gauche na vida! E o que resta para si? Agora vê na libido a culpada de todas as culpas que carrega nas vértebras depois de uma noite bem transada. Uma, duas, três, quatro vezes... até quando satisfaça a necessidade de autopunição no dia seguinte. Uma puta numa reunião de damas. Faça de seu personagem o protagonista dessa tragédia tão fora da moda do nosso mundo pastelão. Vai ser intensa quando o que se pede é previsível, risível, mensurável. O sexo só é laço na sua cabeça. Ultrapasse a barreira da realidade socialmente aceita e conviva com a ilusão de que possa um dia voltar a chamar os confortáveis medíocres de iguais.

Um comentário:

Luisa Nucada disse...

que inconsciente filho da mãe, né?
texto muito rico!
;*