quarta-feira, 1 de julho de 2009

Alfa e ômega

Lolita - Stanley Kubrick (1962)

É delírio demais tentar atar, ainda que num único encontro, as duas pontas da vida, como fizera Bentinho? Juventude e fase adulta: eu aprenderia a enxergar minha vida a partir de meu próprio umbigo, você se lembraria dos belos tempos em que o altruísmo ainda era possível. A infância, esse tempo que subsiste além de qualquer culpa, seria anfitriã de nosso encontro, nos redimindo. Eu deixaria de ser, por um momento, um maço de cabelos louros dignos ora de elogios, ora de ironias cáusticas, e você seria algo mais que a lembrança de alguém que um dia me apontou o caminho para que hoje eu me permitisse desejá-lo. Você viria num redemoinho sulino, ditando-me as geadas próprias da vida já bem vivida enquanto eu lhe sussurrasse aos ouvidos as graças da insensatez juvenil. Depois nos deixaríamos indiferentes, cada qual com um esboço de sorriso no rosto. E nossas rotinas seguiriam dentro do esperado, ruminantes como a moral do rebanho que julga a todos os que se permitem um pouco mais que o maçante correr dos dias.





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