Na fila para o Quatro meses, três semanas e dois dias, duas senhoras conversam em tom razoável no mesmo idioma que o do filme.
"Você é romeno?", perguntava a mais falante àqueles que saíam da sessão anterior.
Entre uma aula de culinária duvidosa, de como fazer polenta despejando-a numa mesa e cortando-a com um barbante, e a explicação das condições de vida na Romênia de sua época, a senhora me diz como interpretar o filme. O tom era impositivo, lembrando todos personagens com quem as protagonistas tinham que se relacionar. Vendo as primeiras imagens, dispara: "Toda desarrumada, feia [sobre Bucareste, capital da Romênia]. Dá vontade de falar um palavrão. Meeerda!"
Como era o país quando partiu? "Você ouve falar das Farc, da Colômbia? Na Romênia era assim, todos tinham medo de todos. Quando meus netos perguntam porque vim para cá, respondo isso." As duas vieram sozinhas, em 1959, sem conhecer ninguém por aqui. Vendo a personagem do filme usar uma sacola plástica para não manchar de sangue a cama do hotel onde faria aborto, diz que algo, pelo menos, melhorou. "Há 20 anos, última vez que fui para lá, tinha que pagar o equivalente a um real por sacola quando ia ao mercado. Ou voltava com as coisas na mão".
Sobre o tema do filme, diz que vira uma amiga usar duas agulhas de tricô para retirar seu filho indesejado. Apenas isso, sem mais julgamentos, como fez o diretor Cristian Mungiu.
No fim da sessão, cantarola a música que toca junto aos créditos do filme. Saudades? "Ahhh, da polenta e do cérebro empanado", o prato da última ceia.
Assim, tensa, é a sensação que fica das senhoras, do filme e de seu país.
"Você é romeno?", perguntava a mais falante àqueles que saíam da sessão anterior.
Entre uma aula de culinária duvidosa, de como fazer polenta despejando-a numa mesa e cortando-a com um barbante, e a explicação das condições de vida na Romênia de sua época, a senhora me diz como interpretar o filme. O tom era impositivo, lembrando todos personagens com quem as protagonistas tinham que se relacionar. Vendo as primeiras imagens, dispara: "Toda desarrumada, feia [sobre Bucareste, capital da Romênia]. Dá vontade de falar um palavrão. Meeerda!"
Como era o país quando partiu? "Você ouve falar das Farc, da Colômbia? Na Romênia era assim, todos tinham medo de todos. Quando meus netos perguntam porque vim para cá, respondo isso." As duas vieram sozinhas, em 1959, sem conhecer ninguém por aqui. Vendo a personagem do filme usar uma sacola plástica para não manchar de sangue a cama do hotel onde faria aborto, diz que algo, pelo menos, melhorou. "Há 20 anos, última vez que fui para lá, tinha que pagar o equivalente a um real por sacola quando ia ao mercado. Ou voltava com as coisas na mão".
Sobre o tema do filme, diz que vira uma amiga usar duas agulhas de tricô para retirar seu filho indesejado. Apenas isso, sem mais julgamentos, como fez o diretor Cristian Mungiu.
No fim da sessão, cantarola a música que toca junto aos créditos do filme. Saudades? "Ahhh, da polenta e do cérebro empanado", o prato da última ceia.
Assim, tensa, é a sensação que fica das senhoras, do filme e de seu país.
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