terça-feira, 25 de março de 2008

Pensando a comunicação

Por que na linguagem escrita sempre haverá mais criação - e portanto mais arte - que na falada? Talvez porque esta última, ao referir-se a alguém, busca o entendimento, que só acontece se for feito um esforço de usar um conjunto de códigos já estabelecidos. O mote, nesse caso, é adequação. Já o papel ou outro meio que permita a linguagem escrita não "arrebanha": o branco das folhas é, no mínimo, um estímulo à ausência de regras.

Isso é verdade a menos que aconteça o encontro de duas ou às vezes mais pessoas que já compartilham desse código. Seu uso comum é automático: elas não precisam se esforçar em adequar-se umas às outras para serem compreendidas. Tomando o código mais como instrumento que como regra, essas pessoas conseguem brincar e criar a partir dele, levando-o além.

Mas esse encontro geralmente é mais raro que flor entre as rochas de uma montanha. Descendo o morro e chegando na vila do vale, convém falar aos aldeões da chuva que se anuncia, do cheiro do almoço, das mazelas da família, da rotina, do sexo -aquele que é hoje tão cheio de regras e ao mesmo tempo tão banal-, do capítulo da novela perdido. Nem por isso a flor da montanha perde seu encanto: segundos de sua exuberância compensam uma vida de cultivo.

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