quinta-feira, 20 de março de 2008

Vizinhança

A construção das mais fúnebres vista. Muro de colunas de concreto estreitamente dispostas, gramado minimalista - só ele e o chão de cimento contornavam o prédio-, as paredes de tijolo à vista do chão ao ponto de fuga que dava no céu.

Em noites de verão, os holofotes iluminavam as centenas de gafanhotos que, quando não morriam na cerca elétrica, voavam até serem devorados pelas corujas, únicas inquilinas do lugar. Em noites geladas e úmidas, a neblina que envolvia o prédio até fazia pensar que aquilo se tratava de um pântano. Cenário de conto de fadas... e bruxas.

Se ninguém morava ali, nem por isso o lugar era um deserto morto: ele próprio era um organismo. Tão intenso que era um disparate chamá-lo de inerte. E a placa no seu pesado portão de ferro indicava haver ali pura energia, avisando do perigo de alta tensão.

Sim, era o vizinho perfeito. Talvez não mais que o recém casal paulistano, com quem toda noite eu compartilhava, por tabela, de um "incenso de ervas" pela janela do meu quarto. Mais exótico que gafanhotos, corujas e pântano, era ter em Maringá vizinhos que ouviam música brasileira de qualidade. É! Só vindo de fora mesmo.

Mas ainda há de chegar o dia em que essa exceção vire regra. O dia em que eu estiver a centenas de quilômetros daqui, lá em Pasárgada.

2 comentários:

Wilson Guerra disse...

Gosta dessas perspectivas para o infinito! :]

Wilson Guerra disse...

* Gosto