quarta-feira, 11 de junho de 2008

Desejo e lágrima em Flor

Florbela Espanca,
bacante doce-fera.
Entre medíocres, alma ímpar
condenada pela morada montanhesa
-única a fazer jus aos seus desejos altivos-
ao ar austero da solidão.

Abiciosa

Para aqueles fantasmas que passaram,
Vagabundos a quem jurei amar,
Nunca os meus braços lânguidos traçaram
o vôo dum gesto para os alcançar...

Se as minhas mãos em garra se cravaram
Sobre um amor em sangue a palpitar...
- Quantas panteras bárbaras mataram
Só pelo raro gosto de matar!

Minha alma é como a pedra funerária
Erguida na montanha solitária
Interrogando a vibração dos céus!

O amor dum homem? - terra tão pisada,
Gota de chuva ao vento baloiçada...
Um homem? - Quando eu sonho o amor de um Deus!...

Charneca em Flor, 1930.