domingo, 15 de junho de 2008

Streap tease

Na net, onde o tempo máximo de reflexão é de uns 5 segundos, nos pedem a mais metafísica das definições: "quem sou eu". Perguntar uma coisa dessa é desistir de uma resposta precisa. Não dá pra despir-se assim tão explicitamente numa página da rede! No máximo, um streap tease vagaroso, onde o jogo de oculta-revela vale mais que a nudez em si. Uma ou outra peça sempre fica - geralmente a máscara, esquecida no rosto devido ao uso constante.

Pois bem, deu vontade de brincar de streap tease. :p

A primeira peça a ser tirada? Que tal a da família, que cobre boa parte do nosso corpo durante a vida inteira? (é, baby... impossível fugir dos genes e dos tiques).
A minha, um tanto exótica desde os primórdios. Um pai de 31 - mesmo longe, alguém que não faz falta, infelizmente - sobe barbado ao altar junto a uma mãe de 21, descalça e descabelada. Amor? Que nada! Só pelo desejo mútuo de morar em Florianópolis. A separação veio rápido, é claro: eu tinha menos de 5 meses. Ótima experiência! Desde pequena, o casamento deixou de ter os ares graves de uma instituição sagrada. Nos seus maus galhos faça-se a serra. Não boa a poda? Corte-se a amarra!

Poesia, na terceira série, era para mim sinônimo de rima. Durante dois bimestres obriguei-me a encontrar palavras cujos sons fossem semelhantes, sem ter sido pedido pela tia. Um puta trabalhão por uma fixação boba. Coisa de criança parnasiana.

Não repetisse o fonema,
Não calibrasse o poema,
Sentia-me desengonçada
Tal qual uma ema.

(e qualquer rima boba dava conta do recado)

Atéia, mais por criação que pelo mérito da crítica própria.
Cíclica, consequência do estrógeno.
Paranóica, mais por experiência que por insanidade.
(às vezes mais por insanidade mesmo. Pêlo encravado em ovo? Pode deixar que eu encontro e resolvo!)

O que me atrai? Subamos o Olimpo para responder.
Sátiro/ Sibila. Centauro. Ártemis/ Dioniso. Um deus bufão.
Também Apolo e Afrodite, como bons guardiões das aparências, das artes e dos deleites.
Ímpeto e júbilo. Ares graves e de escárnio. Um pouco do poder de Júpiter, um pouco da insalubridade de Hades. Chiaroscuro. O ácido e o adubo do riso. E a alternancia ininterrupta disso tudo, como a mais pré-socrática das frases: "tudo é Um".

Pessoas: ame-as ou deixe-as.
Num ensopado insosso, vez ou outra aparece um ingrediente nobre, que dá sabor a todo o resto do caldo. Esses ingredientes não me deixam perder o apetite pela humanidade. Então sigo caçando raridades e minúcias nas veredas das pessoas que encontro.

Desejos, paixões? Florbela já bem disse. O amor de um homem, terra tão pisada... Um homem? Quando eu sonho o amor de um Deus! Tá, Cazuza, quem não sabe amar espera pessoas do tamanho de seu sonho, como insetos em volta da lâmpada. Um dia aprendo, então. Por hora, não é uma aula inadiável.
Porque sempre desejo o inconciliável, extremos que não encontro nem em mim, então não posso cobrá-los nos outros. Enquanto esse Deus unificado não vem, contento-me com um politeísmo não tão onipotente. Uma ou outra deidade que rendesse algum culto; muitos santos dos pés de barro, que valeram o tempo de duração de suas imagens - mas valeram!

O que espero do mundo? Dele, não mais do que já me deu como amostra. De mim, 5 (ou 6?) sentidos cada vez mais aguçados e ativos. E uma medicina evoluída e acessível, que me dê a licença de viver um século e em bom estado.
Essa água, ainda que salobra, há de servir muito ainda à minha sede.

Até agora mais consumi que dei ao mundo o que ele merecia. Peço-lhe um pouco mais de paciência: não consigo retribuir sem a certeza de que ele me fez prenhe, de que estou prestes a parir um filho de quem ele goste.
De que vale um simples casulo perto do vôo leve da borboleta? Pois bem, dê um pouco mais de tempo a esse casulo. Não posso garantir uma borboleta-monarca. Não sei se dele surgirá uma mariposa cinzenta ou mesmo uma mosca (caso mosca surgisse de casulo). Mas se eu me sair uma varejeira nojenta, Mundo, dedetize-me sem culpa!



Tá. Dou por findo esse jogo de revela-esconde.
Moral da brincadeira: autodefinições desinteressadas na net podem ter mais valor que anos depositados na conta gorda de algum analista.

As máscaras, essas não desgrudam nunca. São usadas no palco, nas coxias, nos camarins... Talvez sejam nosso chão e pedestal - apoio inevitável.
Fico, portanto, aqui: despida mas coberta por elas.

6 comentários:

O Desbunde disse...

muito bom!
escreverei uma réplica deste...
em breve!

Wilson Guerra disse...

Corajosa vc. Despir-se num frio desses num é pra qquer um... hauahauahauahaha

Wilson Guerra disse...

ps.: e a mailinha na 3a série procurado rimas devia ter sido o máximo hehehee

Rudah A. L. disse...

Nunca fui O bicho com as palavras, daí por vezes nunca fazer um elogio merecido na hora certa. De qualquer forma, apesar de não ler mais os blogs como lia antigamente, gostei bastante do texto. Se melhorar um dia com as palavras, prometo fazer um elogio decente.

Maíla Diamante disse...

Wilson: era a mailinha procurando palavras q nem doida e o wilsinho fazendo experiências fedidas.
(como nós fazemos nossos contornos cedo, né?)

desbundada: lerei! ;)

rudah: sem essa de falsa modéstia, ruds! vc sabe q gosto do q escreve.
e a petrobrás? investiu?

O Desbunde disse...

a tréplica está postada!!! desnuda!!!