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Carinho maior que ele tinha era pelas meninas que trabalhavam às margens da praça da Catedral. Nem com o friozinho de outono, daqueles de invadir a espinha, deixavam de usar tão belas saias e comprar seu picolé. Maliciosamente, dizia consigo que elas ensaiavam a profissão em seus produtos. Sentia que parte da experiência delas foi ele quem proporcionou - mesmo sem nunca tê-las tocado, nem mesmo com a mais longa unha da mão esquerda, a do mindinho.
Não que não as desejasse. Há muito queria ter tido a chance de oferecer seu estimado carrinho de sorvetes pra Maria do Carmo: o nome fora revelado, com juras de que só para ele, a troco do itu que dera de presente. Para todos os outros era Maria Bela, a negrinha da pele escorregadia e olhos de Deus-dará.
Silva pedia ali, na porta da casa do Pai, onde trabalhava, sempre mais e mais clientes a todas elas, para que tivessem condições de satisfazer suas alegrias parcas e ainda sobrasse dinheiro para o picolé e tempo para o dedo de prosa.
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