Silva foi tentar descansar sua mente no parque. Mas ora! Percebeu que havia um pequeno túnel cavado à unha na gaiola dos furões, e que um deles havia sumido: a fêmea. Os machos não tinham sua vivacidade, nem perceberam o caminho livre. As araras gritavam ansiosas, pois viram o bicho passar determinado por ali. Também queriam experimentar vôo, mas lhes faltava a malícia necessária à fuga.
O sorveteiro dissipou a poeira e conseguiu vislumbrar o caminho que Maria deixara aberto para ele. Não que estivesse insatisfeito com sua vida, mas ver a negrinha dar esse salto o fez provar do néctar embriagante da ambição. Antes, o que o impedia de sonhar alto eram suas emoções moles, pensando encontrar cura pra tudo nos remédios do coração. Não fazia planos, porque Bela era sempre o objetivo último de cada dia. Ah, coração tolo e pequeno!
Não que o amor fosse pura ilusão. Silva não deixou de achá-lo uma coisa bonita. Mas daí a ser algo que guiasse sua vida, isso nunca mais. Viu que era um sentimento que só cabia à algumas pessoas afortunadas, predestinadas a andar em plumas, a enxergar cores suaves e a cantar com notas harmoniosas e ondulantes. As outras, que não eram predestinadas a amar mas o desejavam, perdiam décadas achando que Afrodite só não lhes trouxera essa graça ainda porque estivera atarefada demais, mas morriam sozinhas fazendo oferendas a seu altar. Entre esse grupo havia ainda uma classe característica: aquelas pessoas insatisfeitas com o que a deusa lhes oferecia como companhia, porque buscavam nos outros apenas a grandeza que julgavam encontrar em si. A deusa se irrita com esse tipo de cegueira, e entorta os olhos delas em direção aos seus umbigos até que são engolidas pelas próprias vísceras. É que Afrodite tem as Eríneas como amigas íntimas.
Por isso Afrodite saiu do panteão de Silva. Hermes retomaria seu posto: se dera certo para Maria, mirabolar planos com astúcia também daria certo para ele.
(...)
O sorveteiro dissipou a poeira e conseguiu vislumbrar o caminho que Maria deixara aberto para ele. Não que estivesse insatisfeito com sua vida, mas ver a negrinha dar esse salto o fez provar do néctar embriagante da ambição. Antes, o que o impedia de sonhar alto eram suas emoções moles, pensando encontrar cura pra tudo nos remédios do coração. Não fazia planos, porque Bela era sempre o objetivo último de cada dia. Ah, coração tolo e pequeno!
Não que o amor fosse pura ilusão. Silva não deixou de achá-lo uma coisa bonita. Mas daí a ser algo que guiasse sua vida, isso nunca mais. Viu que era um sentimento que só cabia à algumas pessoas afortunadas, predestinadas a andar em plumas, a enxergar cores suaves e a cantar com notas harmoniosas e ondulantes. As outras, que não eram predestinadas a amar mas o desejavam, perdiam décadas achando que Afrodite só não lhes trouxera essa graça ainda porque estivera atarefada demais, mas morriam sozinhas fazendo oferendas a seu altar. Entre esse grupo havia ainda uma classe característica: aquelas pessoas insatisfeitas com o que a deusa lhes oferecia como companhia, porque buscavam nos outros apenas a grandeza que julgavam encontrar em si. A deusa se irrita com esse tipo de cegueira, e entorta os olhos delas em direção aos seus umbigos até que são engolidas pelas próprias vísceras. É que Afrodite tem as Eríneas como amigas íntimas.
Por isso Afrodite saiu do panteão de Silva. Hermes retomaria seu posto: se dera certo para Maria, mirabolar planos com astúcia também daria certo para ele.
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3 comentários:
Erudição grega.
Nada que o deus Google não resolva.
In google we trust!
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