domingo, 4 de maio de 2008

Maio de 68 e maio de 08

Estudantes durante os confrontos com a polícia em maio de 68 na França.


"Desde 1936 tenho lutado por aumentos salariais. Meu pai, antes de mim, também lutou por aumentos salariais. agora eu tenho uma tv, uma geladeira, um Volkswagen. Porém, apesar de tudo, minha vida continua sendo uma vida de cachorro. Não discuta com os patrões, elimine-os."

"O poder tinha as universidades, os estudantes tomaram-nas. O poder tinha as fábricas, os trabalhadores tomaram-nas. O poder tinha os meios de comunicação, os jornalistas tomaram-na. O poder tem o poder, tomem-no!"

"O que queremos, de fato, é que as idéias voltem a ser perigosas"

"Sejam realistas, exijam o impossível!"

"A revolução não é a dos comitês, mas, antes de tudo, a vossa. Levemos a revolução a sério, não nos levemos a sério"

"Acabareis todos por morrer de conforto"


"Camaradas: a humanidade não será salva até o dia em que o último capitalista for enforcado nas tripas do último bancário". Frase de Gramsci escrita nas paredes de Paris durante as barricadas.


Há 40 anos essas e outras frases emblemáticas eram entoadas pelas ruas ou escritas nas paredes parisienses. No mesmo ano, o clima revolucionário espalhou-se pela Europa e Américas. Essas frases, porém, já não fazem mais tanto sentido para os europeus.


Silvio Berlusconi, reeleito primeiro-ministro da Itália no mês passado.


Hoje, o Velho Mundo Ocidental vem elegendo governos de direita na maioria das eleições ocorridas desde 2007. Nicolai Sarkozy na França, Silvio Berlusconi na Itália,
Andrus Ansip na Estônia, Matti Vanhanen na Finlândia, Anders Fogh Rasmussen na Dinamarca, Yves Leterme na Bélgica, Costas Karamanlis na Grécia, Ian Paisley na Irlanda. A exceção é a Espanha, que reelegeu o primeiro-ministro socialista Jose Luiz Zapatero.


Nicolai Sarkozy, eleito presidente da França há um ano.


Dominique Reynié, professor de Ciências Políticas do
Institut d'Études Politiques de Paris, diz ao Le Monde que "quando a conjuntura econômica vai bem, há uma demanda de liberalização, que a esquerda não parece capaz, salvo exceções, de responder de maneira convincente." Também ressalta que a direita tem vantagem por trazer um discurso de proteção da identidade, de segurança, e por trazer à tona a questão da imigração. Isso sem contar com o envelhecimento da população européia, que segundo Reynié faz com que ela experimente mais medos e ansiedades.

A direita conquista o eleitorado europeu tocando em pontos nevrálgicos e dizendo estar mais bem preparada para enfrentá-los que os sociais democratas. Vence recorrendo ao discurso do medo. Para quem clamou na juventude por idéias perigosas e pelo fim do conforto burguês, os europeus colocaram o rabo no meio das pernas e foram dormir na casinha.

7 comentários:

Wilson Guerra disse...

Que medo de tudo isso né? O.o

ps.: gosto de seus textos objetivos.

Denis Forigo disse...

sim, mas acho que o problema é outro... todo o fervor revolucionário de 68 acabou nesse fervor social-democrata-eleitoralista que acabou em partidos como os trabalhistas ingleses e tantos outros "socialistas" de hoje (como o PT de antes, que acabou no PT de agora). Havia já algum grande problema na mistura de idéias que fervia a revolução daquela época. É uma grande questão para nós...

é... e o fôlego, para começar tudo de novo?

Maíla Diamante disse...

Fôlego? Eu acho que estou bem sedentária.

Mas me fale mais sobre esse problema da mistura de idéias...

Denis Forigo disse...

Bem, como eu disse: é uma grande questão para nós... "por que não aconteceu a revolução socialista ainda?". Quer dizer: talvez aquelas idéias (e suas conseqüências) fossem o possível para a época... talvez se possa dizer o mesmo para a Rev. Russa (que aliás completou 90 anos no ano passado), e já foram grandes feitos... mas o fato é que a revolução socialista não vingou no mundo ainda e acho que as coisas não estão fáceis...

há uma mistura de idéias já no início do PT, por exemplo, que complica e ao mesmo tempo possibilita as coisas. Sindicalistas das antigas, sindicalistas novos (Lula), "intelectuais", igreja etc etc... é um mexidão que tem um caldo de mais de vinte anos de ditadura, de privação de direitos políticos: então foi tudo muito grande, muito forte, muito emocionante, muito popular, mas (como diria um poeta folgado) "e agora José?".

enfim, parece que grandes ciclos começam e terminam, mas no fim das contas "a história da humanidade é a história da luta de classes" e não a contada nas eleições e governos. Não que devam ser ignorados, mas não devem ser superestimados...

enfim, falei demais.
djos

Wilson Guerra disse...

Não sou especialista de Maio de 68 (bem longe disso), mas a impressão que tenho é um pouco diferente da do camarada Denis. Houve sim um "mistureba" teórico/ideológico no movimento (que no final das contas culminou na social-democracia), mas pelo que me parece (isso é "achismo" mesmo) o problema específico foi que o embate se deu apenas na "academia", apenas entre os "intelectuais". O proletariado mesmo não entrou nessa de cabeça. O cotidiano da produção não foi essencialmente mexido, e assim a coisa não anda. Uma mudança na ordem social não vai começar na universidade. As vezes acho que será o último lugar! Quando o proletariado (que rigorosamente inclui nós também) entra, aí não há o que segure. Mas claro, pra mantê-la, não pode ficar isolado. Não existe "socialismo num só país" como o "intelecto" do Stalin apregoou. A História nos confirmou isso.
E eu tô com vontade de chorar :P

Maíla Diamante disse...

Só tenho medo de ficar ressentida demais achando que maio não deu certo e não ver mérito nenhum nele, como se após um breve fervilhar tudo tivesse ficado exatamente igual. Não é algo a comemorar terem-se ouvido vozes que pedem por mudança, e saber que o desejo existe, mesmo que somente em potência? E, quer queira ou quer não, pequenas mudanças ocorreram. Se são mudanças pequeno-burguesas demais ao gosto do ortodoxo, eu pelo menos prefiro com do que sem elas.

O proletariado participou, Wilson. Mas chegou-se num ponto em que houve revolta inclusive contra a falta de possibilidades que um regime stalinista, por ex., vinha exercendo. Foi qdo os estudantes e outros revoltosos foram deixados pelos pcs. O próprio grupo trotskista lembrou isso na introdução daquele testemunho de maio, q te passei por e-mail.

Mas tem várias cositas envolvidas naquilo tudo, e eu tenho que ler mais! Sentemos pra ler aquele testemunho, Virsu?

Wilson Guerra disse...

É mais "achismo" de minha parte mesmo. Como eu disse, teria de estudar melhor a parada, tá ligada mina? Estudemos sim - não sei quando hahhaaha.